Necessidade Social do Curso
1.4 – NECESSIDADE SOCIAL DO CURSO
Os Geógrafos brasileiros estão inseridos no Grupo ou Categoria de Engenharia, sendo profissionais da área tecnológica que atuam no mercado de trabalho ligado à prestação de serviços na área Geográfica. Suas atividades profissionais são fiscalizadas pelos CREAs. O Geógrafo é o profissional registrado nos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia que possui a titulação de Geógrafo, Bacharel em Geografia ou Engenheiro Geógrafo e é disciplinada pelo Decreto nº 23.569/33 e complementada pelas Leis nº 5.194/66, nº 6.664/79 e Resolução nº1010/2005, fazendo parte das profissões abrigadas pelo Sistema Confea/CREAs. O Geógrafo é um técnico responsável pela resolução de problemas do espaço geográfico (natural ou modificado pela ação antrópica) e comprometido com as transformações sociais, da mesma forma que outras categorias profissionais. Trata da organização espacial e das relações entre o homem e a natureza, cabendo-lhes analisar uma multiplicidade de variáveis que compõem cada área e que constituem a dimensão da realidade humana e ambiental, procurando compatibilizar a sustentabilidade e a qualidade de vida com a preservação dos recursos naturais (CORREA, 1996).
Alguns aspectos do bacharelado em Geografia devem ser levados em conta:
– O curso de Geografia apresenta um caráter interdisciplinar que demanda integração permanente com outras áreas de conhecimento técnico-científico. Assim, deve elaborar as vias de acesso à interdisciplinaridade colocando-se em contato permanente com os demais cursos da UFMS e de outras Universidades;
– A atuação nos diversos campos de trabalho exige do profissional Geógrafo o desempenho de atividades técnicas variadas: no levantamento e manipulação de dados históricos, estatísticos, de dados provenientes de entrevistas, relatos, etc.; como no uso de instrumentos técnicos de campo e de laboratório; no uso de documentos de sensoriamento remoto; assim como na construção de representações cartográficas manuais e informatizadas.
– Exemplos de atuação de geógrafos, no âmbito nacional, são os trabalhos e pesquisas desenvolvidos no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); os estudos e pesquisas de geografia médica desenvolvidos na década de 1940 na área de saúde pública; o planejamento físico e humano para a implantação da capital do país em Brasília, na década de 1950, o planejamento de Atlas e cartas temáticas nacionais, estaduais e municipais; o trabalho desenvolvido pelo Projeto Radam Brasil que, entre outros objetivos, veio a preencher a lacuna em conhecimento técnico-científico das bases físicas de enormes áreas do território nacional (principalmente a Amazônia e a região Centro-Oeste); o trabalho desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no desenvolvimento de técnicas de análise e interpretação de produtos do sensoriamento remoto para aplicação em pesquisas ambientais e de uso do solo; trabalho desenvolvido junto a Cetesb no equacionamento, mapeamento e apresentação de soluções para o problema da poluição do ar em Cubatão e sua repercussão na Mata Atlântica da Serra do Mar.
– Outros exemplos de atuação em campos mais restritos espacialmente, como a montagem de planos diretores, no monitoramento de áreas litorâneas, no monitoramento de reservas e parques ecológicos, no mapeamento e monitoramento da produção agrícola, na coordenação e acompanhamento de assentamentos, no mapeamento da análise de redes urbanas e de transportes, nas análises de geopolítica, no mapeamento e análise relativas ao comércio internacional e nacional, análise e propostas de RIMAs e EIAs, têm servido às comunidades interessadas, em diversos níveis.
O campo de atuação do Geógrafo tem sido vasto e vem acompanhando as necessidades relacionadas ao desenvolvimento geoeconômico do país. De acordo com o decreto n.0 85.138, de 15 de Setembro de 1980, que regulamenta a Lei n.0 6.664, de 26 de junho de 1979, que disciplina a profissão do Geógrafo, decreta em seu Art. 30: É de competência do Geógrafo o exercício das seguintes atividades e funções a cargo da União, dos Estados e dos Municípios, das entidades autárquicas ou de economia mista e particular:
I – Reconhecimentos, levantamentos, estudos e pesquisas de caráter físico-geográfico, biogeográfico, antropogeográfico e geoeconômico e as realizadas nos campos gerais e especiais da Geografia, que se fizerem necessárias:
– na delimitação e caracterização de regiões e sub-regiões geográficas naturais e zonas geoeconômicas, para fins de planejamento e organização físico-espacial;
– no equacionamento e solução, em escala nacional, regional ou local de problemas atinentes aos recursos
naturais do País;
– na interpretação das condições hidrológicas das bacias fluviais;
– no zoneamento geohumano, com vistas aos planejamentos geral e regional;
– na pesquisa de mercado e intercâmbio comercial em escala regional e inter-regional;
– na caracterização ecológica e etológica da paisagem geográfica e problemas conexos;
– na política de povoamento, migração interna, imigração e colonização de regiões novas ou de
revalorização de regiões de velho povoamento;
– no estudo físico-cultural dos setores geoeconômicos destinado ao planejamento da produção;
– na estruturação ou reestruturação dos sistemas de circulação;
– no estudo e planejamento das bases físicas e geoeconômicas dos núcleos urbanos e rurais;
– no aproveitamento, desenvolvimento e preservação dos recursos naturais;
– no levantamento e mapeamento destinados à solução dos problemas regionais;
– na divisão administrativa da União, dos Estados e dos Municípios.
II – A organização de congressos, comissões, seminários, simpósios e outros tipos de reuniões, destinados ao estudo e divulgação da Geografia.
Em Mato Grosso do Sul, bem como nos Estados recentemente criados apresentam algumas peculiaridades. A criação de um poder político estadual e sua organização nos diferentes níveis demanda um conjunto de atividades que abarcam um amplo espectro profissional, principalmente da área técnicoadministrativa. Criam-se novas secretarias, institutos e órgãos públicos; criam-se
novas redes de comunicação; reorganiza-se e amplia-se a iniciativa privada, etc. Em Mato Grosso do Sul, a criação do Estado, coincidiu com a ampliação de produtos agrícolas, em sua porção central, assim como o setor industrial, com a ampliação da rede urbana e de transportes, e a reorganização do espaço face às novas demandas econômicas. Três campos de atuação do geógrafo abriram-se em MS diante dessas condições. Há uma contribuição que pode ser dirigida aos órgãos públicos, seja junto a instituições como o IBGE, INCRA, de caráter nacional, seja junto a
secretarias, como a SEMA, SEPLAN e outras, de caráter estadual ou, junto ao poder público municipal. A atuação do Geógrafo na iniciativa privada, poderão ser realizadas através de consultorias, assessorias, perícia técnica e laudos técnicos principalmente para o atendimento das exigências legais que ora vigora no país, através de EIAs e RIMAs, quanto a ocupação e produção de áreas dos mais variados tipos, seja face a obras de construção de estradas, hidrelétricas, oleodutos, gasodutos, áreas de turismo, áreas urbanas e industriais etc.
As perspectivas de atuação do Geógrafo em Mato Grosso do Sul são promissoras, mas, como no restante do país, devem ser buscadas através políticas específicas e organizadas, considerando-se a legislação e regulamentação da profissão.
A implantação do Curso de Geografia na sede da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, tem por objetivo suprir a falta de profissionais habilitados em bacharelado na área de Geografia, visando à formação de profissionais capazes de contribuir o desenvolvimento territorial do Estado de Mato Grosso do Sul e do País, em bases sustentáveis.
A centralidade da cidade de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, viabiliza a demanda por profissionais técnicos em Geografia para atuar no estado, na região Centro Oeste e no país. Em paralelo, permite a maior inserção do curso na sociedade sul-mato-grossense e a construção de um curso de excelência.
Como centro da organização espacial do estado, a cidade de Campo Grande concentra população, investimentos e a produção científica e tecnológica, aspectos que possibilita trocas de alto nível, fundamental para a verticalização do curso de Geografia, com a implantação, em médio prazo, de programas de pós-graduação na área e/ou multidisciplinar.
No Brasil, e em Mato Grosso do Sul, em especial, o conhecimento do espaço, em suas diferentes faces, é particularmente importante em função do desenvolvimento do País e do Estado e, consequente mudança na divisão territorial do trabalho no mundo.
O desenvolvimento pressupõe conquistas fundamentais, dentre as quais ressaltam o melhor aproveitamento da dimensão continental do país e de Mato Grosso do Sul, mediante a valorização de recursos naturais e humanos e a ocupação de espaços vazios. Urge uma política nacional de desenvolvimento regional e a ocupação adequada do espaço territorial através do planejamento. Isso implica, necessariamente, em qualificação profissional, em aprimorar o rigor do pensamento geográfico e aumentar a capacidade de comunicação interdisciplinar.
Sob esse aspecto, o Curso de Bacharelado em Geografia em Campo Grande é focado nas geotecnologias, no planejamento e gestão ambiental e no desenvolvimento territorial, a partir de uma estrutura curricular multidisciplinar e generalista, sem perder a especificidade desta ciência. Busca-se a formação de profissionais capazes de atuar na dinâmica territorial sul-mato-grossense e brasileira, a partir da compreensão da relação homem-meio em sua integralidade.
A despeito de todas as críticas, o saber geográfico continua a ser valorizado, tem uma aplicabilidade e uma legitimidade que gera grande interesse na sociedade, é considerada uma disciplina obrigatória no currículo básico da educação brasileira e de muitos países, tem lugar nos meios de comunicação e respeito acadêmico.
Frente às novas solicitações, os geógrafos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, cônscio de sua responsabilidade para com a renovação e o aperfeiçoamento do magistério superior e a formação de pesquisadores e planejadores, implantaram o Curso de Bacharelado em Geografia na sede Campo Grande, dando continuidade a sua tradição inovadora na formação geográfica no Estado de Mato Grosso do Sul, na Região Centro-Oeste, e no País como um todo.