Conceituação: a função social da profissão e da Arquitetura e Urbanismo

“A cidade deve constituir uma estrutura de amparo à vida, levando em conta suas várias dimensões – habitação, comércio, serviços, transporte, lazer e trabalho”. A arquitetura, modificadora do espaço e da paisagem, deve atender social e esteticamente as necessidades humanas (Paulo Mendes da Rocha). A função social consiste na prevalência do interesse público em relação ao interesse privado na prática de uma atividade. A arte, a ciência ou a arquitetura estarão cumprindo sua função social quando sua prática gerar resultados que contribuam para a construção do bem comum. O Seminário de Discussão do Curso de Arquitetura e Urbanismo de 2011 aprovou que: “O Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMS deve definir sua identidade apoiada em ações e práticas de ensino, pesquisa e extensão voltadas para a priorização das questões sociais da cidade e do campo”, sendo essa ideia essencial na identificação da linha de ação para a definição de conteúdos disciplinares, projetos, extensão e pesquisa com o fim social e esse princípio deve ser assumido como compromisso de todos. A educação em arquitetura e urbanismo não se esgota em sala de aula e se estende às demais atividades propostas nesse projeto pedagógico, que inclui atividades de ensino, pesquisa e extensão em ateliers, experimentos em laboratórios de pesquisas e atividades externas, relacionadas com a sociedade, especialmente as de menor poder aquisitivo.

 Por uma consciência crítica de ensino em Arquitetura e Urbanismo

  1. Ensino de disciplinas projetuais deve ser integral: uma nova atitude de ensino deve ter uma ótica formativa e não apenas informativa ou adestradora. Dentro dessa prioridade, um método baseado em seis coordenadas: de um lado, a função, a plástica e a economia; de outro, o homem, o sítio e a técnica, criando um método que permita ordenar a crítica do professor e a autocrítica do aluno.
  2. O ensino de disciplinas projetuais deve ser ministrado através de um corpo doutrinário da disciplina: instalação de um corpo de conhecimento específico da arquitetura, aplicável com objetividade ao processo projetual como reflexão teórica e crítica sobre a própria arquitetura, que incorpora, obviamente, dados e conhecimentos de outras ciências correlatas, mas não discorre sobre elas, formando um corpo estruturado voltado para a arquitetura, com toda a sua abrangência, mas com sua potencialidade exclusiva.
  3. Desenvolvimento de uma atitude crítica e autonomia por parte do aluno: a atitude crítica é um dos fatores que leva à desejada autonomia do aluno, mas não é o único. Contribui em muito para a autonomia o entendimento do projeto como solução de problemas, tanto da realidade sócio-espacial como também dos problemas de estruturação da forma arquitetônica.
  4. Exercitação intelectiva: da capacidade de compreensão visual das estruturas formais – atributo do objeto e habilidade do sujeito que o analisa.
  5. Contextualização: o contexto é importante auxiliar no aprendizado para motivar o aluno, situando-o concretamente no mundo e dando-lhe referenciais reais e palpáveis.
  6. Necessidade de aquisição de repertório: para tanto o aluno precisa saber redigir e para isso será necessário muita leitura. A criatividade não se exerce a partir do nada, mas sobre precedentes referências de conceitos e materiais de arquitetura e urbanismo; por isso a necessidade de informação é fundamental. O estudo tipológico e paradigmático na busca de referências.
  7. Ensino de disciplinas projetuais como desenvolvimento de uma disciplina pessoal: investir na autonomia intelectual do aluno para a compreensão e solução dos problemas.
  8. A importância do conhecimento prévio: o curso deve compreender que o aluno possui experiência anterior e isso deve ser considerado.
  9. O papel do professor: o compromisso ético do trabalho docente é promover junto aos estudantes o desenvolvimento de sua capacidade de apresentarem propostas concretas para a solução das situações-problema que lhes sejam colocados.

1.1.  As disciplinas integradas

Este projeto pedagógico inclui o conceito de disciplina integrada, contemplando os campos da Arquitetura e do Urbanismo, em exercícios que comportem a combinação da estruturação de ações de projetar e de pensar o espaço, o edifício e a paisagem. Esse modelo ocorre no 4o Ano, com a disciplina Projeto Integrado I e II, que articula exercícios integrados com as demais disciplinas propositivas em atelier.

1.2          Princípios gerais:

  1. A prática da Arquitetura e Urbanismo abrange (e representa) a discussão sócio-política-espacial, no âmbito programático e espacial e estético no âmbito da estruturação formal, as técnicas construtivas e os métodos e técnicas de representação e expressão;
  2. É necessária a reaproximação dos campos: Arquitetura e Urbanismo como condição para recuperação do aspecto integralizante (profissional generalista) da Arquitetura e Urbanismo;
  3. Adotar a distinção didática (métodos e técnicas de ensino) de distintas abordagens complementares, mas as seguintes abordagens para tipologias, partido e construção formal:
    1. Abordagem contextual (conteúdos com a característica de articulação com o contexto sócio-político-espacial); implica no reconhecimento da filiação às ciências sociais:
  1. Incorporação do método científico para desenvolvimento das questões sócio-espaciais envolvendo formulação de problemas e soluções a partir da confrontação de distintos aportes;
  2. Conteúdos e métodos de solução formal utilizando-se da metodologia moderna da concepção (construção do objeto) para aplicação ao contexto sócio-político-espacial.
  3. Conteúdos e métodos da cultura arquitetônica acumulada historicamente.
  4. Sobre a atividade: levantamentos, debates, consultas, entrevistas, etc. para determinação da relevância do tema para o espaço do centro considerando como é, o que representa e qual o público usuário;
  5. Sobre o local: investigações-critérios para escolha do espaço mais adequado para a intervenção; vocações do espaço-memória, histórico e influências no presente; planos, legislação, concepções e sua influência no espaço; infraestruturas (transporte, acessibilidade, etc.);
    1. Abordagem disciplinar (conteúdos básicos, técnicas típicas da arquitetura);
  1. Adotar a distinção didática das formas de pesquisa:
    1. Pesquisa para o projeto (ou pesquisa do objeto de projeto):
  • Relação do edifício e seu contexto. Pré-existências-informações inerentes ao lugar que sugerem ou indicam algo para a concepção.
    1. Pesquisa de projeto:
  1. Levantamentos físicos: medidas, topografia, trajetória solar, ventos, etc.;
  2. Pesquisa de precedentes, referências teóricas, de tipologias, de grafias, de técnicas e tecnologias construtivas e de infraestrutura aplicáveis;
  • Contexto urbano: olhar a cidade e o entorno;
  1. Clima, temperatura, latitude, orientação, topografia, terreno, limites;
  2. Local da implantação da edificação no terreno; forma de implantação; acessos e percursos;
  3. Visuais e perspectivas dominantes;
  • Compatibilidade formal do objeto: longe, perto, isolado;
  • Áreas construídas x áreas livres;
  1. Informações socioculturais – programa, legislação e costumes, disponibilidade financeira, disponibilidade de tempo;
  2. Configuração formal do edifício;
  3. Definição espacial: volumes e planos; número de volumes;
  • Hierarquia; equilíbrio; simplicidade ou complexidade;
  • Técnica construtiva; materiais; ritmo; cheios e vazios; configuração espacial do edifício;
  • Relação volume e função; forma da planta; simetria na planta; conexões espaciais internas; usos definidos e flexíveis; luz e sombra.
  1. Incorporação ao objeto de todos os elementos do processo, desde os conteúdos da pesquisa até às definições morfológicas, sintetizando a complexidade e a totalidade do objeto (objeto de projeto deve ser entendido em seu todo);
  2. Ainda como princípio, o conceito de sustentabilidade como preocupação com o legado ambiental a ser transmitido às futuras gerações, entendido como conjunto de ações que considerem a finitude dos recursos naturais ao mesmo tempo em que garanta o acesso às condições mínimas de vida para todas as pessoas de forma a viabilizar efetivamente a conquista da sustentabilidade; portanto há a indissociabilidade entre o que é social e o que é ambiental. Afeta diretamente a arquitetura e o urbanismo justamente por ser o campo e a prática que trabalha mais diretamente o ambiente e o social, requerendo que o referido princípio seja pensado como indissociável à arquitetura e urbanismo e aplicado em todas suas ações.

1.3   Procedimentos gerais

  • A integração horizontal de disciplinas deverá acontecer prioritariamente no trabalho final das disciplinas projetuais, favorecendo que os conteúdos e exercícios possam convergir para o mesmo objeto, que pode ocorrer no último exercício do semestre;
  • As disciplinas deverão avaliar a necessidade de trabalhar conteúdos e exercícios específicos ao longo do período de aulas como forma de atender à ementa da disciplina;
  • As disciplinas participam da discussão vertical, mas incorpora os elementos compatíveis com os conteúdos já acumulados pela turma e aqueles que possam ser incorporados a partir do nível de conhecimentos que os alunos trazem de sua formação pregressa;
  • Definição de programa e local do projeto:
  • A partir da temática e local a ser trabalhado, será a pesquisa para o projeto que possibilitará detalhar o objeto a ser projetado e suas relações com o contexto físico e sociocultural;
  • Assim como permitirá desenvolver critérios para definição do local e, também sua escolha definitiva. Poderá resultar em uma ou mais escolhas conforme conveniência da disciplina e a critério do professor; envolve o debate sobre a utilização de áreas construídas ou vazias (ou o processo de desenvolvimento e produção de cidades – patrimônio, sustentabilidade, etc.);
  • Que papel terá um conjunto arquitetônico para a atividade prevista em relação ao contexto do local?
  • Sob o aspecto do interesse público e de uma vivência pública do espaço, que transformações-modificações devem ocorrer a partir dessa intervenção?
  • Que características urbanas e urbanísticas existentes devem ser privilegiadas para potencializar a relação do novo conjunto arquitetônico com o local escolhido?
  • Deveriam ser feitas modificações no cenário institucional vigente, a partir da intervenção, para potencializar e redefinir o atendimento do interesse público no espaço?
  • Como as atividades internas articulam uma vivência do espaço estimulante do convívio e interação? E ainda, como essas atividades internas podem se relacionar com o espaço público?
  • Qual o papel dessa intervenção na revitalização ou requalificação do local?
  • Que critérios seriam estabelecidos, a partir da investigação do objeto de projeto como atividade em um local, para determinação da área de intervenção, bem como das diretrizes e programa para a atividade? (uma noção de programa como conjunto de ideias para as atividades no espaço);
  • Considerando-se o conceito de sustentabilidade como de interesse público, e que esta se baseia na indissociabilidade entre o social e o ambiental, como a intervenção contribuirá para tal relação?
  • Soluções. Considerando os aspectos relevantes da inserção do objeto, da atividade e do lugar, (obtidos a partir de informações obtidas em palestras, debates, pesquisa bibliográfica, documental, etc.), se estabeleceriam respostas ou posicionamentos coerentes (em relação aos conteúdos discutidos e pesquisados) a serem aplicados às soluções arquitetônicas, tanto na forma de soluções espaciais, como na interpretação-construção estética dos elementos conceituais revelados.
  • As técnicas e os métodos. A solução de um problema sócio-espacial como projeto arquitetônico é, a princípio, inexistente por não haver solução prévia para o problema como um todo. Entretanto, as soluções podem estar entre a tipologia, o partido e a construção formal, ou seja, no âmbito da utilização da cultura arquitetônica (estratégias compositivas, caráter, partido, soluções precedentes, etc.) integra a competência do profissional e é fundamento para viabilização das soluções mencionadas e soluções que ao articular as questões estabeleça morfologias que os sintetizem.
  • Desenvolvimento em etapas e nível de definição do objeto graficamente conforme cada disciplina;
  • Questões-modelo para a abordagem programática do objeto de projeto no local escolhido:

2. O método da sequência de aprendizado

  • 1a FASE (obtenção de repertório arquitetônico): é a fase de obtenção de insumos, de aquisição de repertório – os materiais da Arquitetura e Urbanismo (sistemas e elementos);
  • 2a FASE (contextualização): corresponde à fase de tematização, da contextualização, onde se procura apreender as relações que estão em jogo, às possibilidades do tema a partir de sua problematização;
  • 3a FASE (construção formal/partido/intenções): corresponde à fase de problematização; neste caso já aplicada ao campo particular da Arquitetura, de estabelecimento dos princípios formais adequados. Para o Urbanismo e o Paisagismo, o conceito de referências é importante ser debatido;
  • 4a FASE (processo do projeto): corresponde à fase de verificação, onde a solução é testada de diversas formas, será modificada, ou mantida, sobre a base da pré-forma estabelecida na sequência ideograma-partido. Aqui se elabora a forma e são testadas possibilidades de melhoria;
  • 5ª FASE: Avaliação. Corresponde à fase de julgamento de resultados. Essa fase deve ser explicitada ao aluno, quanto às formas e os meios de avaliação de seus trabalhos.

No Curso as habilidades e conhecimentos necessários à formação profissional devem ocorrer também em sala de aula, mas nunca exclusivamente nela. Por este motivo são solicitados e proporcionados à participação em projetos de pesquisa e extensão, o desenvolvimento de pesquisas temáticas, bibliográficas, iconográficas e documentais na área de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo, a produção de inventários e bancos de dados, a experiência prática em ambiente profissional, a apreensão da realidade através de entrevistas, pesquisas, desenhos de observação, fotografias e vídeos. Também são proporcionados e reconhecidos como atividade complementar essencial os estágios desenvolvidos em instituições, escritórios profissionais e empresas externas a Universidade, desde que comprovadamente possam contribuir para a sua formação. É considerada relevante, no processo de formação, a divulgação ampla da produção dos estudantes para gerar debate, troca de experiências e avaliação crítica, através da exposição de trabalhos em murais, em publicações (ainda a serem viabilizadas) e na página do Curso na Internet. Professores do Curso já vem adotando como forma de apresentação de pesquisas e inventários a Internet, propiciando que os trabalhos dos próprios estudantes, de todas as séries, constituam um banco de dados a disposição deles. Outra forma de complementação do aprendizado adotada pelo curso é a participação dos estudantes em atividades complementares como encontros, exposições, concursos e premiações, seminários internos ou externos à instituição, inclusive através de seu envolvimento em sua organização. O processo de avaliação do curso é considerado não apenas como oportunidade de verificação se cada estudante, ou turma, alcançou os objetivos previamente propostos, mas principalmente como oportunidade de nivelamento do conhecimento, discussão e revisão das metas e reconsideração de propostas. As provas escritas, de múltiplas escolhas ou dissertativas, constituem um dos instrumentos de avaliação, da mesma forma que a elaboração de pesquisas, o desenvolvimento de propostas de intervenção em arquitetura, urbanismo e paisagismo, a participação nas atividades e o envolvimento no processo. São considerados como aspectos a serem avaliados não somente a formação instrumental, mas também, e com considerável ênfase, a formação conceitual. Ao final do curso, no último semestre, os alunos desenvolverão o Trabalho de Conclusão de Curso, que tem por objetivo avaliar as condições de qualificação do formando para acesso ao exercício profissional, ou seja, aferir o domínio dos conhecimentos essenciais (profissionais) e das competências necessárias. Será avaliado o domínio dos conhecimentos essenciais e da capacidade de resolver os problemas, sem os quais não se exercita a profissão com responsabilidade técnica e social. O estudante escolhe livremente no âmbito das atribuições profissionais um campo de atuação e um ou mais campos de conhecimento sobre os quais ele irá enunciar e apresentar o tema. A capacidade de resolução do problema de Arquitetura e Urbanismo estará demonstrada na qualidade de três resoluções inseparáveis na avaliação do formando: resolução tecnológica, resolução teórica e resolução conceitual/projetual. A defesa do trabalho se dará perante uma banca de avaliação com participação de membros externos à UFMS trazendo arquitetos e urbanistas para participar da avaliação não somente do candidato, mas da produção do Curso, proporcionando maior envolvimento e comprometimento da sociedade e de todo o corpo docente no processo.